quinta-feira, 19 de março de 2009

Confiança


Há uma semana atrás fiz coisas que jamais imaginei fazer. Não só por inicialmente não me achar capaz, mas por sempre ter demonstrado uma certa displicência com esse tipo de atividade. Sempre que via reportagens na televisão sobre esportes radicais, vinha-me à cabeça um comentário, na voz de autoridade masculina do meu pai, menosprezando a necessidade das pessoas sentirem cada vez mais emoção por meio da adrenalina obtida dessa forma tão perigosa. Coerência acima de tudo, certo?

Com o passar dos anos, eu fui me tornando mais "tolerante" e a "tolerância" cresceu até o ponto de não me "importar" em aceitar um convite para uma série dessas atividades (coloco os termos entre aspas porque é claro que tudo isso era apenas uma manobra interna para me aproximar de algo que sempre me deu medo, mas que ultimamente tem me atraído bastante).

Pois bem, lá fui eu para São Carlos numa tranquilidade de causar inveja. Eu tinha visto as fotos da Jana fazendo um monte de coisas com um sorriso de ponta a ponta e imaginei "não pode ser tão difícil". Afinal de contas, eu não estava me propondo a pular de wingsuit nem escalar uma geleira na Antártida. Eu fui participar de uma brincadeira perfeitamente adequada a um ser sedentário como eu, que pensa duas vezes antes de subir numa escada sem apoio com mais de três degraus.

Eu rapidamente acordei da ilusão quando me vi na plataforma de treinamento, a 8 metros de altura, tendo que me inclinar de costas para o espaço vazio, soltando todo o peso do meu corpo no nada. No nada? Bom, não exatamente. Havia um equipamento perfeitamente adequado para esse fim, no qual eu teria que confiar. Havia também um instrutor altamente qualificado, com uma paciência de monge budista, dizendo-me que eu estava em segurança, desde que seguisse suas instruções. E também havia a observação dos exemplos bem sucedidos dos meus companheiros. Só não havia a minha confiança.

Existem momentos na vida em que você simplesmente precisa contrariar o instinto de sobrevivência. É estranho pensar assim, pois ele deveria estar lá pra te proteger, não? Mas para isso temos o contraponto racional. Isso não quer dizer pensar demais, apenas pensar o suficiente. É um mix da perfeita integração do que você quer, do que você é, e do que você poder vir a ser. E isso significou que após duas tentativas eu não só pude descer um vão de 8 metros mas pude vivenciar uma das mais bonitas junções de uma bela paisagem com uma maravilhosa sensação de bem estar e contentamento.



Eu vou encurtar a história, porque uma boa parte dela pode ser encontrada e muito bem contada no blog do Denis, principalmente no que se refere ao rafting e à tirolesa do segundo dia. Mas antes de terminar, preciso mais uma vez falar sobre a tal confiança. No cômputo geral do final de semana, existem muitos momentos memoráveis. Momentos de superação, de alegria, de satisfação, de companheirismo. Mas tem um que achei particularmente singelo e que retrata o nível mais básico de confiança, aquela que se ganha simplesmente por não se estar só. Atravessar um rio com água na altura da canela certamente não parece ser um momento de grande emoção, não depois de descer 35 metros de uma cachoeira, estar dependurado por uma corda a 50 metros de altura ou remar de encontro a uma corredeira. Mas me fez sentir bem e feliz de poder compartilhar da confiança que se dá e se recebe quando se faz um esforço conjunto de zelar pelo outro. Por isso agradeço aos meus companheiros de passeio, Denis e Mony, e aos anfitriões, Zé e Jana, pelo convite, pela amizade, pela sensação de segurança, pela dedicação e alegria, e pela oportunidade das novas descobertas. E que venham muitas outras! Uhuuuullll!


P.S. Ao mostrar as fotos para os meus pais, ouvi o relato de uma atividade semelhante, feita na juventude pelo meu pai, sem nem um quinto da segurança fornecida pela operadora. Isso é pra eu aprender a não tomar a ferro e fogo os julgamentos dele, que nem sempre retrataram suas opiniões reais, mas que sempre tiveram o intuito de me "proteger" de certos "perigos" enquanto eu não tivesse meu próprio discernimento no qual me basear.

4 comentários:

De Marchi ॐ disse...

"Corre, mano!" hehehe

O prazer foi nosso, Karin. E esse teu comentário sobre seu pai tem tudo a ver; às vezes damos importância demais pras resmungadas dos pais, sem pensar que a opinião deles também flutua, que às vezes falam por falar, da boca pra fora, etc...

Sempre achei que esses desafios transformam a gente necessariamente pra melhor. É um cruzar limites, um colocar-se em xeque fundamental. Você enfrenta fobias, receios e vícios - com o bônus da diversão. Onde mais dá pra fazer isso? É raro.


beijão

A Moça disse...

eita laiá! quero estar persente na proxima aventura! :)

웃 Mony 웃 disse...

Karin, não tens nada que agradecer, minha linda. Euzinha é que agradeço pro não teres estourado de rir das minhas patetices com o remo... Ah! Mas, se tivesses, eu rira junto, que tava engraçado mesmo a minha descoordenação motora! :P
Engraçado, eu tive a mesma sensação de confiança e de paz, só em ver que vocês estavam todos ali, bem ao ladinho... Bom demais poder desfrutar de momentos marcantes especiais, com gente igualmente especial e querida por perto!
Afe! Eu quero é mais...
E sabe, é bem assim mesmo, a gente precisa se arriscar mais, dar menos bola pro que os pais falam e viver as próprias experiências. Claro que eles tentam fazer o melhor que podem com o que têm, mas, definitivamente, orientar não é cortar as asas, é ensinar por ionde é mais tranquilo voar...
Mas, eles erram tentando acertar. O importante é no tempo certo a gente colocar as asas pra crescer e fazer bom uso delas...
E isso, parece que a gente tá conseguindo, num momento muito sincrônico, inclusive... Rs
Bora dar vazão à envergadura.
Beijoconas.
Mony

De Marchi ॐ disse...

P.S.: este blog era muito bom quando era vivo... hehehehe