quinta-feira, 14 de junho de 2012

Lágrimas

Raiva é o resultado do medo de sentir dor. A raiva pode estourar sem controle quando algo nos atinge. A explosão imediata impede a dor, desvia a atenção, e enquanto se sente raiva não se sente a dor. E se a gente quiser interromper a dor mais tarde, antes de terminar de sentí-la por completo, essa dor vira ressentimento, que nada mais é do que uma forma de raiva branda e persistente. Tem que ser muito forte para se permitir sentir a dor até ela esgotar. Desconfio que ter prazer em sentir dor também é uma fuga, pois é preciso ter coragem de ir ao fundo da dor e em seguida encarar o que traz a dor. E não adianta fingir que gosta. Despeito também é uma forma de raiva. E como a dor emocional rasga o peito, o coração, a alma! Dóem todas as vísceras, dói respirar, dói não respirar, dói até a gente passar mal… mas uma hora a dor passa! Pode não ser de uma vez, dependendo da dor ela pode voltar em surtos durante anos, mas quando se encara o motivo da dor e se permite que doa até o último fio de cabelo, cada surto também passa. E se não desaparecem de vez, costumam ao menos se tornar mais leves e espaçados. Tem que ter muita coragem pra sentir dor. Ainda assim, é muito melhor sentir dor do que sentir raiva. A dor passa e vc se vê frente a frente com a causa da dor. As lágrimas, depois que secam, deixam limpa a vista da alma. Depois da dor vem uma certa anestesia e nesse momento até o medo fica de lado. Sobram vc e a fonte da sua dor. Já a raiva corrói o corpo e a alma. A raiva nos consome por dentro, vira doença. Pode até ser que num momento de ira consigamos usá-la para sobrepujar alguma dificuldade. A raiva é a fonte de energia do "righteous anger", é capaz de quebrar as paredes… ou os seus punhos. Mas a raiva nos permite atropelar o outro e a nós mesmos, nos cega a ponto de nos permitir machucar a quem mais amamos… o que acaba retro-alimentando a dor, o medo e a própria raiva. A raiva desintegra… as lágrimas lavam a alma. Fico com as lágrimas.

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