sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Caminhar me faz tão bem...


Recentemente fiz uma viagem a Natal. Sozinha. E passei por uma situação interessante.

No primeiro dia em que cheguei, estava completamente insegura. Eu me senti como provavelmente meus gatos se sentiram quando me mudei para esse apartamento: frente ao território desconhecido, eles grudaram a barriga no chão e se moviam muito, muito lentamente.

Foi exatamente o que eu fiz em meu primeiro dia na praia de Pipa. Olhei os arredores e assim que descobri uma cadeira e um guarda-sol que eu pudesse alugar pelo dia me plantei ali, como se tivesse finalmente encontrado um lugar que pudesse chamar de meu. Fiquei ali, 'tomando sol e apreciando a paisagem' por algumas horas, até me sentir segura o suficiente para começar a explorar os arredores. Naquela tarde não fui muito longe. No dia seguinte fiz uma caminhada bem mais longa. O no dia posterior passei o dia andando e conversando com novas amizades. Aí não parei mais. Fiz tudo o que tinha vontade. Durante a viagem fiz muitos passeios, conheci lugares lindos, fiz novos amigos, visitei uma amiga antiga, escolhi o que fazer e o que não fazer. Acima de tudo, andei, pensei, vi como a vida pode ser bem mais simples.

De volta ao lar e à antiga rotina, algo mudou. A primeira coisa que percebi é que me agarro demais às coisas que tenho e percebi o porque. Minhas coisas me dão uma impressão de segurança, de que estarei preparada para qualquer situação ou necessidade. De fato, nessa viagem, a primeira que fiz inteiramente por turismo completamente sozinha, levei o dobro de bagagem do que precisava, fruto de pura ansiedade. A mesma ansiedade que me faz manter tudo o que tenho.

Comecei a limpeza. Armários foram abertos, roupa foi lavada, lençóis e enormes toalhas velhas deixadas de lado para dar espaço ao novo, ao mais leve. Esse é um processo que recém começou e ainda vai levar um tempo para completar esse ciclo.

E hoje tive mais uma 'revelação'. Em meio a um aperto no coração difícil de resolver, resolvi dar uma volta para arejar. Simplesmente precisava andar e o restinho de luz do dia me permitia pelo menos uma hora de caminhada. Coloquei um tênis, um shorts e uma camiseta e saí sem rumo pela vizinhança. E algo curioso aconteceu. Percebi como, em 14 anos que moro aqui, mal conheço meu próprio bairro. Passei por ruas onde nunca havia estado, vi lugares que mal percebi esse tempo todo, senti cheiros que não imaginava ter tão perto de casa (cheiro de grama molhada, por exemplo), ouvi sons familiares em casas desconhecidas, recebi sorrisos de outros caminhantes. Descobri que moro do lado do canteiro de mudas da subprefeitura do Butantã, um lugar que garante um trecho verde com árvores enormes...

E o melhor de tudo: percebi como posso ver absolutamente qualquer coisa com os olhos de quem nunca viu. Tudo me pareceu novo, até mesmo os lugares que eram velhos conhecidos. As luzes, as cores, os cheiros… tudo estava tão diferente! Nunca pensei em sentar numa esquina e apreciar o passar dos carros pela Raposo Tavares ao entardecer. Senti prazer em contrariar a placa de proibido seguir em frente só porque ela estava ali e não tive dúvidas em mudar de caminho tantas vezes quantas eu senti vontade. A sensação de novo me seguiu até entrar dentro da minha própria casa, quando acendi as luzes do jeito que mais gosto.

Não é a primeira vez que vivencio algo assim. E a experiência de hoje me faz lembrar o quão facilmente esqueço de antigas soluções, que estão ao meu alcance em qualquer momento, sem a necessidade de ter nada de antemão, apenas a minha própria habilidade de me abrir a novas perspectivas.

Da próxima vez, eu saio com a máquina fotográfica...